Victor Mühlethaler
O Odor da Revolta
[SRTA. TRUNCHBULL]
Eu sinto um cheiro nesta escola

[AMANDA, falando]
Eric...

[SRTA. TRUNCHBULL, falando]
Quieto, verme, não me amola!

(cantando)
Cheiro, que aliás, é bem ruim
Só as narinas singulares são capazes de notar
É a catinga da revolta
O miasma do motim

Usando o meu sentido olfativo
Sei que o real motivo
Desta pestilência é ultrajante
Então, pra inhaca não pegar
Vocês irão se exercitar
Pra mostrar quem é mais revoltante

(falando)
Segura!

(cantando)
O odor da revolta
Está no suor que o esporte põe pra fora
Eu vou de um por um
Cheirar o seu futum, pra ver de quem aflora
Um corpo cansado nos diz
Se é culpado por causar o tеrror
Um, dois
Como um ovo já diz ao boiar
Que por dentro está podrе

[SRTA. TRUNCHBULL (E CRIANÇAS)]
O odor da revolta (Um, dois)
O ranço do mal (Três, quatro)
A fetidez da insolência (Eu não sei aguento mais)

O cheiro do golpe (Um, dois)
O pum do complô (Três, quatro)
A putridez da resistência

[MATILDA]
Já é demais!

[SRTA. TRUNCHBULL]
No meu jardim
Uma erva-daninha
Encontra o fim sem nunca germinar

Segunda posição!

Se uma larva cavar
Eu vou logo extirpar
Pra nunca se criar
O odor do protesto (Um, dois, três, quatro)
O ranço do horror (Um, dois, três, quatro)
O aroma fétido do atrito
O cheiro da afronta (Um, dois, três, quatro)
A inhaca do caos (Um, dois, três, quatro)
A pestilência do conflito

[ERIC, falando]
Por favor!

[SRTA. TRUNCHBULL]
Os demônios com fadiga
Não vão mais causar intriga
Com muito mais prática
O ranço não vai se instalar

(falando)
Muito bem. Mais rápido, tempo dobrado. Um, dois, três, quatro...

(cantando)
Prática, prática
Pra turma problemática
Que nunca fica estática
Na aula de gramática

Esquálida, patética
Inválida, sem ética
Acata a minha tática
Com prática
Por isso a disciplina sob a ordem hierárquica
Fulmina a clandestina política anárquica
Somente o esforço físico destrói o amor narcísico
E agora todos vão saber na prática!

Seus músculos minúsculos
Raquíticos, artríticos
Se dão já por vencidos
Impedidos de lutar

É uma lógica didática
Que vem de forma enfática
Com prática, prática

[CRIANÇAS]
Prática!

[SRTA. TRUNCHBULL]
O odor da revolta
O ranço do mal
A fetidez da anarquia
O cheiro do golpe
O pum do complô
A putridez da rebeldia

Vislumbre um lugar sem crianças
Vale a pena sonhar
Vislumbre o sossego, a paz, o aconchego
Que vai encontrar

Imagine um chalé na floresta
E nesse chalé, um bufão
Que além de ator de um circo de horror
Faz chapéu de papel sem a mão

E canta:
"Guarde os seus cavalos
Ou vão roubá-los daqui
Quando enfim se encontrar
Eles vão relinchar, gratos"

[ERIC, falando]
Ela é louca!

[SRTA. TRUNCHBULL]
Ahá!
Então, como eu previ
Um verme brota bem ali

Mesmo um ínfimo, mínimo ser
Reúne forças pra feder
Não há nada que possa me dar mais nojo
Não há cheiro no mundo pior...

[SRTA. TRUNCHBULL (E CRIANÇAS)]
Que o odor da revolta (Prática, prática da ginástica)
O ranço do mal (Todos na prática, sem uma lágrima)
A fetidez da insolência (Quem apronta está por um triz, é o que diz o nariz autocrático)
O cheiro do golpe (Prática, prática da ginástica)
O pum do complô (Todos na prática, sem uma lágrima)

E não vou parar até tirar
A gana de quem quer lutar
Até a minha prática lavar
O cheiro ruim de vez!