[Intro - Alexandre]
"O meu pai foi roubar, aí o carro... o... voou... [?]... banco, né... Aí... aí o meu pai roubou... aí um, primeiro, tava tendo... o meu pai deu fuga... Aí depois, o meu pai ...tava dando fuga ainda, né... Depois q-, aí deixou o carro verde, pegou o [?] e deu fuga com o [?]... A... Aí ouviu a... a polícia t-tava [?]... Aí a polícia deu os tiro – pro vidro do carro da frente –, né, aí... é... Ah! Aí eles foi e matou... o que que o meu pai continuamo vendo o fuca; aí, depois do último tiro que atiraram, mataram o meu pai. Aí ele pegou o meu pai na cadeia [?], aí depois foi... mataram meu pai porque [?] pro hospital, depois... Enterraram o meu pai."
[Verso 1: Dum-Dum]
Seu caixão no SPTV teve aplausos do doutor
Churrasco, bossa nova, smoking, licor
No DP teve surto de alegria das vítimas
Com seu carro metralhado pela polícia
Se abraçaram tipo gol de final de campeonato
Orgasmo vendo seus parente humilhado pelo delegado
Diazepam, calmante, mulher desmaiada
Filho gritando, vizinho trazendo copo d'água
Pai e mãe sem um real sequer pro busão
Num corre atrás do seu corpo, da liberação
Puta humilhação, acendeu o estopim do ódio
O seu caixão foi doado, não teve direito a velório
Nos BO bem sucedido, pro seu bolso uma pá de amigo
Pro seu enterro nenhuma flor, só sorriso, nenhum níquel
Na TV o gambé simulou igual puta de boate
Forjou um arsenal pra dar autenticidade
Vinte e cinco tiros de advertência – nenhum no pneu
Apuração não aconteceu, só você se fodeu
O cuzão que te estourou como se fosse um cachorro
Essas horas tá olhando o menu na Haddock Lobo
E agora, quem dá leite pro seu filho de colo?
Qual é a resposta quando perguntam se o papai volta logo?
Trinta segundos de jornal não valeu seu atestado de óbito
Infelizmente, é Facção conversando com os mortos
[Refrão: Jota Arias]
Não acredito que você deixou o crime te vencer
O porco de farda ser condecorado porque metralhou você
Tem um bufê na mansão dos porcos
Pra festejar o teu velório
Seu filho que herdou só um santinho com foto
Com pique de próximo atestado de óbito
[Verso 2: Eduardo]
Sua mina descobriu que você morreu
Quando ligou no seu celular e um gambé atendeu
O abutre carniceiro foi frio e perverso:
"Seu marido foi ver o ponto de nylon do necrotério!"
Queria passar com o carro nele, ida e volta, até morrer
Mas, confesso, tô com mais raiva de você
Não quis dar um breque nessa porra de vida
Foi mais fraco que os dez toca-CD na mochila
Foi suicida, sabia como a polícia investiga:
Primeiro descarrega, depois levanta a ficha
Esqueceu da cartilha da dor, do Dacar
Trombou uma pá de rebelião, quase morreu de apanhar
Na enfermaria, doente, mesmo sem nenhum postal
Não viu que o crime não dá Hollywood, nem água-e-sal
Não leu com atenção as instruções da vida
O Audi TT instiga, mas é jazigo em forma de vítima
Atrás do poste fica o sniper esperando a chance
Pra te ver cuspir sangue levando o carro pro desmanche
Umas mil vezes... Pra quê? Na garupa da CG:
"Pará o carro! Vai pro banco de trás pra não morrer!"
Não pôs no quarto-e-cozinha um azulejo
Só alegrou traficante que quis o seu cachimbo aceso
Você mesmo imprimiu o santinho com a sua foto
Infelizmente é Facção conversando com os mortos
[Refrão: Jota Arias]
Não acredito que você deixou o crime te vencer
O porco de farda ser condecorado porque metralhou você
Tem um bufê na mansão dos porcos
Pra festejar o teu velório
Seu filho que herdou só um santinho com foto
Com pique de próximo atestado de óbito
[Verso 3: Dum-Dum e Eduardo]
Foi morte sem comércio de porta abaixada
Não subiu nenhum balão com sua foto estampada
Não teve salva de tiro dos cadete
Mais um caixão sem cobertura da bandeira verde
Te juro, já cansei de tragédia
No sábado, o mano no show; na segunda, entre quatro velas
Olhou, esbarrou, só pisou no meu Mizuno
Chave pra festa vira ringue de vale-tudo
Jogador de férias no Caribe
E nós jogando bomba em quem torce pro outro time
Toda semana eu escuto: "Porra, você viu?
Fulano morreu na paulada, tá inchado boiando no rio!"
A policia é a raposa caçando o coelho
Vi enquadrar dois que desapareceram
Tiraram o direito de outra mãe velar seu filho
Vai pro túmulo com a dúvida: morreu ou tá vivo?
Periferia é campo fértil pra brotar história trágica
Biografia da desgraça infinita em páginas
Que seus órfãos não rumem pra metralhadora
Não usem a herança da Taurus moqueada no guarda-roupa
Descanse em paz, acabou o barulho da sirene
As mordidas do pastor-alemão do PM
Em três anos, da mesma forma, o substituto pro seus ossos
Infelizmente é Facção conversando com os mortos
[Refrão: Jota Arias]
Não acredito que você deixou o crime te vencer
O porco de farda ser condecorado porque metralhou você
Tem um bufê na mansão dos porcos
Pra festejar o teu velório
Seu filho que herdou só um santinho com foto
Com pique de próximo atestado de óbito